quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ouça os homens da rua...

Katrine era uma garota simples, que amava viajar para os lugares e conhecer pessoas novas, era uma daquelas pessoas que você não pensaria duas vezes antes de ir tentar puxar algum assunto.
Mas são apenas... Detalhes.
Ela tomou antes de sair de casa um leve café da manha que tomava todos os dias, um copo de leite e um pedaço de pão de trigo.
Era dia 6/2/2014, um dia especial para ela, afinal, era seu primeiro dia no novo emprego, para chegar até o local de trabalho ela utilizava o sistema de trens e metrô, era fácil, por mais que fosse desnecessariamente lotado na opinião dela.
Descendo do treme seguindo em direção à saída, passando pela catraca velha e rígida. Seguindo pela passarela para continuar seu percurso para o trabalho.
A cidade nova chama atenção da pequena estagiaria e a faz olhar atentamente para todos os prédios, casas, lojas e para as pequenas arvores que lá havia.
E encostada em uma delas havia um mendigo, cego, com idade avançada e que parecia falar algo sozinho.
Apenas por uma leve curiosidade Katrine se aproxima só um pouco do velho mendigo, o suficiente para que possa ouvir o que ele diz.
O velho era realmente cego, porem de alguma forma sabia quando alguém passava na sua frente.
Katrine sentou em um dos bancos próximos ao mendigo e como estava muito adiantada para o trabalho começou a observar.
Um homem de 25 anos, com terno, gravata e uma maleta passou pelo mendigo e Katrine pode ouvir o velho dizer: “galinha”.
De principio ela não viu o que fazer senão amenizar uma leve risada pelo comentário do velho.
Passaram seus 10 minutos que estava adiantada observando.
Varias pessoas passaram e receberam diversos comentários do velho.
Um homem gordo de 21 anos que foi chamado de peru
Uma mulher de 25 que foi chamada de vaca
Uma velha que foi chamada de camarão
E mais um homem de 32 anos que foi chamado de vaca também.
Muito curiosa Katrine teve que correr para seu trabalho, prometendo a si mesma que iria descobrir o significado das palavras do velho mendigo.
Quando se levantou para correr ela passa em frente  do velho e é chamada de vaca também, isso há deixou um pouco desconfortada, mas não se incomodou muito com aquilo, apenas correu para o trabalho.
A jornada de trabalho foi rápida para a nova estagiaria, como não estava com muito trabalho ficou admirando sua colega de trabalho fazer algumas planilhas e pedindo ajuda para fazer sua.
Na volta ela viu o senhor parado no mesmo local, do mesmo jeito, falando das pessoas assim como antes: Peru, galinha, trigo, humano e morangos.
Respectivamente para uma mulher de meia idade, um senhor bem vestido, um homem sorridente e uma menininha de 10 anos.
Katrine voltou para sua casa ainda pensando no mendigo, tomou seu banho, comeu algo rápido, macarrão instantâneo e depois se jogou na cama.

No dia seguinte ela acordou e fez a mesma rotina, se arrumou e saiu de casa depois do seu café da manha, desta vez, leite e alguns biscoitos.
Pegou a mesma rota do dia anterior, e passou novamente pelo mendigo, igual ao dia anterior, estava adiantada e resolveu se sentar e ouvir o velho mendigo novamente.
Passaram-se alguns minutos e ela avistou de longe sua colega de trabalho chegando,
Katrine a via como sua chefa, por mais que não fosse.
Fabiane era seu nome.
Fabiane passou na frente do mendigo e como fazia sempre chamou ela de alguma coisa, a chamou de humano.
Sem entender ainda o que ele falava Katrine levantou e foi para o escritório junto de sua colega de trabalho, e quando passou em frente ao mendigo o ouviu dizer “vaca”.
Ainda assim, como antes, ela não ligou e continuou andando.
Seu dia no trabalho passou muito rápido, com o convite de Fabiane para passar o final de semana em casa vendo filmes e comendo pizza.
Claro, sem hesitar o convite foi aceito por Katrine.
As ultimas 2 horas de trabalho foram ainda mais rápidas do que o dia inteiro.
Logo ela já estava com sua bolsa e saindo do prédio.
Precisava voltar logo para casa para preparar sua mochila ou bolsa para o final de semana fora de casa.
Quando voltou o mendigo, continuava lá, no mesmo lugar.
Por pura curiosidade ela foi até o mendigo e sem pensar duas vezes perguntou:
“Por que chama as pessoas dessa forma?”
O mendigo foi educado em responder:
“Minha querida é um dom que possuo, eu sei qual foi a ultima coisa que as pessoas comeram”.
Com interesse ainda no ar, ela lembrou que havia tomado leite no café da manha, então por isso tinha sido chamada de vaca, tomava leite nas duas manhas que passou pelo mendigo.
Katrine simplesmente agradeceu, voltou para casa lembrando-se das coisas que ouviu o mendigo chamar as pessoas.
Ela abriu a porta de casa, entrou, tirou os sapatos e se jogou na cama, pensando em o que deveria levar para o final de semana.
Depois de pensar começou a colocar algumas coisas em uma bolsa e deixou na sala.
Foi tomar banho e depois dormiu em sua cama.
A noite foi tranquila e pensativa, pensando nas coisas que ouviu e no trabalho também.
Levantou cedo para deixar a casa em ordem.
Arrumou tudo que podia e o que não pode foi deixado para ser organizado em outra hora.
Colocou sua bolsa no ombro e saiu de casa.
Fabiane estava em sua porta com um carro simples.
Katrine entrou no carro e as duas seguiram a viajem.
Logo as conversas começaram a surgir, diversos assuntos dos mais variados tipos.
Em meio aos assuntos Katrine fez uma pergunta:
“Do que foi que o mendigo te chamou ontem?”
Ela não virou o rosto para olhar para Katrine, apenas disse:
“não me lembro dele ter dito algo”
Katrine pensou em silencio a viagem toda...
Ao virar algumas esquinas pararam em frente a uma bela casa com abertura para caber um carro, o portão automático começou a abrir e Fabiane começou a entrar na garagem quando Katrine disse:
“Humano, foi disso que ele te chamou ontem...”.
Fabiane colocou a mão na lateral do banco:
“compreensível”
Foi a ultima palavra que Katrine ouviu antes do portão fechar, junto com sua leve chance de fugir...

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